O melhor lado da Sociedade Anônima do Futebol
Por que a responsabilização dos clubes é tão importante e o que a introdução da SAF tem a ver com isso
Nos últimos anos a discussão para que os clubes brasileiros se tornem clubes/empresas, também conhecidos como SAF (Sociedade Anônima do Futebol) tem tomado conta dos assuntos futebolísticos no Brasil. Visto como essencial pela maioria das pessoas, principalmente para aqueles times mais endividados e em situações administrativas mais complicadas, alguns clubes já introduziram o novo tipo de Sociedade em seus estatutos. Sobre isso, destaco esse artigo que me deparei recentemente:
"O caso do Catania é emblemático, não só na Itália, pois trata-se de um clube popular na região sul do país, mas também para os clubes brasileiros que seguem o modelo da SAF. É um importante alerta. Os clubes que adotam essa forma de organização, passam a ter todos os bônus e ônus da atividade de uma empresa, dentre elas está o risco de quebrar e, nessa hipótese, ter que recomeçar sua jornada esportiva do zero, a partir das divisões iniciais", analisa Rafael Marcondes, advogado especializado em direito tributário e colunista do Lei em Campo. [...] Com uma dívida de aproximadamente 56 milhões de euros (R$ 360 milhões), o Catania teve seu plano de recuperação recusado pelas autoridades financeiras de futebol da Itália e não encontrou um comprador para arcar com todas as pendências. A expectativa era de que o Catania pudesse disputar a temporada atual, mas para isso seria necessário que o Tribunal de Catania concedesse um exercício provisório, o que não aconteceu." Sem grifo na notícia original.
A parte em negrito foi a que mais me chamou a atenção na fala do entrevistado. É evidente que tanto os administradores, antigos ou novos, dos clubes, bem como seus torcedores, sabem que esse tipo risco passa a existir assim que a SAF é implementada. Contudo, me parece que poucos têm notado o quão bom isso é.
Numa pesquisa rápida, é possível perceber que grande parte das dívidas dos clubes brasileiros está atrelada ao Estado[1], ou seja, times de futebol, que, a par do entretenimento e dos poucos impostos que entregam, nada contribuem com o desenvolvimento nacional, estão utilizando do dinheiro público para custear péssimas administrações de pessoas físicas, que nunca são pessoalmente responsabilizadas por seus atos.
A possibilidade de um clube de futebol quebrar financeiramente e ter que arcar com essas consequências é uma excelente novidade no nosso país. Nada mais recorrente que uma administração gastar mais que pode e depois recorrer a diversos credores, com as mais bonitas promessas e nunca cumpri-las, reiniciando um ciclo vicioso. Talvez, com a definição em Lei das punições cabíveis em caso destes gastos exacerbados e sem uma “muleta” do Estado para socorrê-los, os dirigentes passem a ser, no mínimo, mais cuidadosos com as finanças dos clubes.
Veja, minha crítica jamais poderia ser aos clubes, ao esporte ou aos torcedores, que são quem de fato sustentam os clubes de futebol, mas sim à legislação e às autoridades, que permitem que o dinheiro público seja tão mal gasto e destinado, validando qualquer ato inconsequente dos dirigentes esportivos.
Logo, ressalto que a transição dos clubes brasileiros para o modelo de Sociedade supracitado é, dentro outros motivos, incrivelmente benéfico ao próprio Estado brasileiro e a população em geral, que não deverá custear atos criminosos de dirigentes, que desviam dinheiro dos clubes ou simplesmente não possuem qualquer cuidado por um dinheiro que não é seu.
[1] https://www1.folha.uol.com.br/esporte/2019/04/apos-perdao-do-profut-clubes-criam-nova-divida-de-r-100-mi-com-a-uniao.shtml
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