Um novo sistema de votação?
Como mais opções de votos podem garantir que menos extremistas sejam eleitos
Recentemente a cidade de Nova Iorque votou para escolher seu novo prefeito. O interessante, entretanto, foi a nova maneira de escolher o seu candidato que a cidade resolveu implantar. Conhecido como ranked-choice voting ou em tradução livre votação de escolha por classificação, o método permite que os eleitores escolham até cinco candidatos de acordo com a sua preferência, em vez do tradicional candidato favorito.
O sistema não obriga que você escolha cinco candidatos, na realidade ele obriga apenas que um seja escolhido, mas ele permite o ranqueamento de cinco candidatos preferidos, de modo que de fato a escolha da maioria seja definida, e não um candidato que “é menos pior que o outro”.
Como funciona?
Se um candidato receber 50% mais um dos votos depois de todas as primeiras escolhas forem contadas, ele é eleito;
Se ninguém receber 50% mais um, segue-se a contagem;
O candidato que receber o menor número de votos como primeira opção é eliminado e os votos para segundo lugar de quem o escolheu como primeiro são redistribuídos aos demais candidatos.
Essa redistribuição acontece até que um candidato atinja 50% mais um dos votos válidos.
Repare nas imagens acima como ou o sistema já nomeia quem são os candidatos e você apenas os escolhe de um a três, ou você mesmo escreve o nome numa lista de até cinco candidatos.
Embora Nova Iorque seja um grande marco para esse novo método de votação, não é a primeira vez que ele é usado. De acordo com o grupo FairVote, há 20 jurisdições nos EUA que utilizam essa maneira de votar, e há dois estados, Maine e Alaska, que já utilizaram em 2020 para as eleições de líder do Executivo estadual e nacional.
Em outros países, como Austrália, Irlanda e Malta, esse método é utilizado desde o início do século XX, enquanto Irlanda do Norte, Nova Zelândia e Escócia adaptaram-o recentemente. A Premiação do Oscar também aplica essa votação desde 2009.
Pontos negativos
Embora pareça simples, é de fato um modo complicado de votação, com certeza mais complexo que com o qual estamos acostumados. Por ser mais elaborado, pode gerar mais erros e confusões por parte dos eleitores, segundo essa pesquisa.
Há o argumento de que é menos democrático, já que vai contra a ideia que cada pessoa tem direito a uma escolha. Particularmente acho isso uma bobagem, pois é justamente a possibilidade de elencar suas opções que tornam esse sistema tão democrático e não obrigam o eleitor a fazer a escolha “menos pior”.
Como não é regra preencher todas as cinco escolhas, é extremamente comum que os eleitores não o façam. Segundo uma pesquisa dessa eleição de Nova Iorque, apenas um quarto dos eleitores fizeram cinco escolhas. O problema aqui é que se poucos elencar suas opções, como garantir que a vontade da maioria foi feita? Aqueles que preenchem todos os blocos teoricamente teriam maior voz na eleição. Para evitar esse tipo de problema, a Austrália obriga que todos preencham as cinco opções.
Ainda que esse método diminua a obrigação do eleitor de votar no “menos pior”, ele pode fazer com que candidatos combinem votos. Uma estratégia válida seria fazer campanha para si e para um rival que você ganharia com caso fosse eleito. Por exemplo, para o Candidato A é melhor que ele seja eleito, mas se isso não acontecer, pode ser mais interessante que o Candidato B seja eleito que o Candidato C, fazendo com que o A faça campanha para si e para o B ao mesmo tempo, e vice-versa, diminuindo, então, o poder de escolha do eleitor. Para resolver esse problema seria possível limitar regras de campanha que não seriam tão distintas das atuais.
Pontos Positivos
Esse sistema sim garante que o eleito seja o escolhido da maioria. Veja, no sistema tradicional, vence aquele que ou obtiver 50% +1 dos votos válidos, ou quem, em segundo turno, simplesmente receber mais votos. O problema aqui é que muitas vezes é eleito aquele que consegue angariar o maior número de eleitores, mas não necessariamente a maioria, sem falar nos casos em que vence o “menos pior”. Nesse novo sistema vence aquele que agradar o maior número de pessoas, ainda que não seja o preferido delas.
Como a ideia é escolher mais de um candidato, aqueles mais extremistas, que apelam para a parcela da população que enxerga tudo apenas de uma maneira, perdem e muito seu poder. Ainda que esses candidatos tenham uma forte base, ela não será suficiente para vencer a união dos votos dos outros eleitores que não compactuam necessariamente com aqueles ideais.
Além disso, como um candidato precisa agradar de fato a maioria, diminui-se e muito a tendência que esse faça uma campanha tão negativa dos outros candidatos e da situação atual do local. Ora, aquele que constantemente critica a tudo e todos terá sérias dificuldades de conquistar a grande parte do eleitorado.
Os custos de campanha são reduzidos drasticamente. Num sistema mais tradicional com o qual estamos acostumados, se o candidato for ao segundo turno, ele precisará investir ainda mais em sua campanha, ou até mesmo antes do primeiro turno. No ranked choice voting, há apenas “um turno”, o que também é sinônimo de economia para quem organiza as eleições, menos dano ao erário.
Por fim, as pessoas ficarão muito menos frustradas ao votarem. Em vez de serem obrigadas a escolher alguém com que elas tenham muito menos empatia simplesmente porque a outra opção seria ainda pior, os eleitores poderão escolher quem realmente querem no poder, elencando, assim, os mais e menos preferidos.
Sem dúvidas não é um sistema perfeito, ou nem mesmo um sistema que “chegaria pronto”. Contudo, não há dúvidas que seria superior ao atual método de escolha que temos, principalmente se levarmos em conta a atual polarização do país. Até quando seremos obrigados a escolher o menos pior e ficar contando os dias até a próxima eleição?